Errado o político que reclama de estar levando pedradas. Qualquer um que se disponha a se eleger desde síndico de seu prédio até presidente de uma República, tem a obrigação de ter a consciência de que não está naquele cargo ungido pela totalidade do eleitorado e, mesmo que seja pela maioria deste, muitas vezes essa maioria nem sequer representa a vontade da maioria da população que não teve como se manifestar na urna por uma série de razões. No inicio da nossa República, por exemplo, somente tinham direito ao voto quem tivesse renda acima de um determinado valor, não fosse analfabeto, além de outras condições. Hoje, somente tem direito ao voto quem possui mais de 16 anos e o analfabeto sequer tem o direito de disputar qualquer cargo eletivo – salvo em seu condomínio, se os estatutos o permitirem. Na semana passada, o presidente Bolsonaro, naquele papo matinal que se acostumou a ter com jornalistas na saída do Palácio da Alvorada, disse que pouco importava se iria ou não vetar alguns artigos do projeto de lei aprovado pelo Congresso sobre o abuso de autoridade, porque “se vetasse, levaria pau, se não vetasse levaria pau do mesmo jeito, por parte de vocês” (ou seja, da imprensa). Bolsonaro reclama que a imprensa está contra ele, e, sem dúvida que grande parte ou mesmo a totalidade dos grandes órgãos estão, até porque a publicidade oficial sofreu corte de quase 100 por cento. Mas, de qualquer forma, ele tinha plena consciência da extrema divisão na qual se colocou o país desde o impeachment de Dilma Roussef e dos resultados da Operação Lava Jato que levou Lula à cadeia. Não quisesse levar pedradas, bastaria não ter se candidatado à presidência. Afinal, qualquer prefeito sabe muito bem que se não pintar o muro de uma escola, a oposição vai lhe bater dizendo que está abandonando os prédios públicos; se pintar, vão dizer que a tinta é porcaria e que desbotará em três meses; se pintar com tinta de excelente qualidade, dirão que poderia ter feito o serviço mais barato e esta jogando fora o dinheiro do povo. Assim como quem está na chuva é para se molhar, como diz o antigo ditado popular, quem quis se tornar vidraça tem que saber levar ou ter a capacidade de se desviar da pedradas.

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