Editorial 1148: O fim das autoescolas?
- Jornal Itajubá Notícias
- há 2 dias
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Hilário e Felipe Deliane Dastre. Poucos sabem ou se lembram quem foram na história de Itajubá. Nas décadas de 1950 a 1980, quem queria aprender a dirigir, mas não tinha um pai, parente ou amigo que o ajudasse, procurava pela Autoescola Itajubá, dos irmãos Hilário e Felipe. A autoescola possuía dois carros, que, naquela época, a população aprendeu a chamar de “calhambeques”, expressão popularizada na década de 1960 pelo cantor/compositor Roberto Carlos. Eram automóveis fabricados na década de 1920, ou seja, com 30 ou 40 anos de uso, e funcionando perfeitamente.
Na frescuragem oficial que tomou conta deste país, as autoescolas passaram a se denominar CFC (Centro de Formação de Condutores), e, ao contrário daqueles áureos tempos, qualquer cidadão que pretendesse obter sua Carteira Nacional de Habilitação (CNH), passara a ter, obrigatoriamente, que tomar aulas, teóricas e práticas, num CFC que, a despeito da oficialidade tentar impingir a nova denominação goela abaixo do distinto público, todo mundo continuou a chamar de “autoescola” e pronto! Pelo menos 30 anos se passaram desde que as autoescolas se tornaram obrigatórias. Antigamente, no tempo de Hilário e Felipe, a obrigatoriedade não existia. Quem tinha o parente ou amigo que lhe ensinasse a dirigir, buscava apostilas nas bancas de revistas para estudar os sinais de transito, se inscrevia para um exame médico, que envolvia, praticamente, apenas audição e visão, marcava o dia na banca examinadora e enfrentava o rigor do examinador. Se não tivesse carro, pagava pelo uso de algum de uma autoescola e estava resolvido. A obrigação da autoescola, evidentemente, tornou muito mais caro para qualquer cidadão obter sua CNH, e poderia estar bem mais cara do que hoje, caso houvesse vingado a tentativa de obrigar as pessoas a terem aulas em simuladores, como queria o governo, recentemente. Pouquíssimas pessoas que aprenderam a dirigir sem autoescola, tornaram-se maus motoristas.
Na semana passada, o Contran (Conselho Nacional de Transito) baixou resolução desobrigando os cidadãos de matricularem-se em autoescolas, embora tenha que se submeter aos testes de conhecimentos teóricos, além da prova prática, para obter a CNH. Isso, no entanto, não quer dizer que as autoescolas tenham se tornado obsoletas, como nunca foram obsoletas nos tempos de Hilário e Felipe Dastre. Elas eram, e continuam, fundamentais para aqueles que não têm um parente ou amigo com paciência para ensiná-los a conduzir um veículo. Nos tempos atuais, aliás, talvez tenham se tornado mais necessárias do que antigamente, devido à tecnologia embutida em quase todos os veículos. E, provavelmente, continuarão a ser procuradas para as aulas teóricas.
Caso saibam se adaptar aos novos velhos tempos, as autoescolas sobreviverão, enquanto que cidadãos sem condições financeiras para arcarem com os altos custos de uma CNH no Brasil poderão conquistá-la, ao invés de arriscarem-se a serem presos numa blitz.



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