“Quando o coração toca primeiro”
- Jornal Itajubá Notícias
- 14 de jul.
- 2 min de leitura
Por Eduardo Hideo Sato - pai do Rafael Gomes Sato, de 13 anos e que tem a T21, e idealizador e coordenador da 1ª equipe de Futsal Down do Sul de Minas, o T21 Arena Park (Instagram: @t21arenapark).

Por inúmeras vezes me vi diante da difícil pergunta: como lidar com a condição genética do meu filho Rafa — ele tem T21, mais conhecida com síndrome de Down — em uma sociedade que ainda insiste em olhar para a “diferença como defeito”?
Entre medos, receios e tentativas de proteção, percebi que estamos inseridos em um mundo onde o egoísmo impera, onde o "ser diferente" frequentemente é visto como "anormal", onde sonhos são diminuídos, oportunidades negadas e até o direito de existir dignamente pode ser questionado. Mas o Rafa, com sua simplicidade e autenticidade, tem me ensinado o que talvez nenhuma teoria ou manual jamais conseguiria.
Rafa me mostra, dia após dia, que para as pessoas com T21, o mais importante não é a performance, o reconhecimento externo ou a aprovação dos outros. O essencial é ser feliz. É viver de forma plena, sendo quem são, sem se curvar aos julgamentos de uma sociedade capacitista.
E nós, pais, temos um papel fundamental: acreditar em nossos filhos. Incentivá-los, apoiá-los, dar condições reais para que suas habilidades se desenvolvam — mas também aprender a escutá-los, respeitar suas vontades e reconhecer sua autonomia.
Foi o que aprendi em uma recente passagem com ele.
Rafa ainda não sabe tocar violão, mas adora música. Vire em mexe, ele abraça um violão que foi da Cris (sua mãe e minha esposa), e com entusiasmo e alegria “toca” e “canta”. Para ele, basta. Sente-se um verdadeiro cantor.
Sem nos avisar, começou a ensaiar uma música para um trabalho da escola. Gravou um vídeo e pediu para enviar ao professor. Queria participar da apresentação. Quando soubemos, tentamos orientá-lo a não levar o violão — além de desafinado, ele ainda não sabia tocar de fato. Nossa intenção era protegê-lo de possíveis piadas ou até da compaixão alheia.
Mas a resposta do Rafa foi uma grande lição:
“Pai, eu vou levar e tocar. Não tem problema se meus colegas zoarem. Se eles falarem alguma coisa, eu não ligo. Eu vou tocar!”
E assim ele fez.
Voltou da escola “passando mal” de tanta felicidade. Tinha tocado com suas colegas na apresentação. Estava feliz, radiante, realizado.
Aquele momento me ensinou algo que vou levar comigo para sempre: orientar é importante, mas respeitar é fundamental. Rafa queria participar, queria mostrar sua alegria, sua vontade, sua presença. Para ele, não importava se estava perfeito. Importava se era verdadeiro.
Essa vivência reforçou em mim ainda mais a importância de enxergarmos muito além da condição ou de um diagnóstico. De não limitarmos nossos filhos por medo da rejeição do mundo, mas sim prepararmos o mundo para receber com mais empatia, oportunidades e respeito.
Rafa não apenas tocou um violão naquele dia. Ele nos tocou com sua coragem, sua pureza e sua determinação.