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Editorial 1147: Chacina Jurídica

Não trataremos, aqui, das chacinas que, de tempos em tempos – e até que já faz um tempinho que não vemos – ocorrem nas periferias do Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e outras grandes cidades brasileiras, onde a bandidagem se vinga da própria bandidagem, que traiu, em algum momento, a bandidagem ou a confiança de um líder da bandidagem. Nada disso. Também não falaremos das antigas chacinas que ocorriam, sobretudo nos sertões brasileiros, seja no Nordeste, Norte ou Centro-Oeste, onde famílias inteiras se viam dizimadas, por guerras particulares por causa do assassinato de um parente ou disputa por terras.

São famosas, a história sertaneja do país, as chacinas entre famílias, levando à morte até mesmo de crianças ou adolescentes, porque, quando se matava a cobra, era necessário, também, dizimar os filhotes, para prevenir-se contra a vingança. O político nordestino, que se fez fluminense nas décadas de 1940/50, Tenório Cavalcante, o deputado pistoleiro que ia para a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, quando Niterói era sua capital, ou para a Câmara, quando se tornou deputado federal, na cidade do Rio de Janeiro, então capital da República, é um exemplo de quem teve sua família chacinada na sua terra natal, e teve que fugir, ainda adolescente, para o Sudeste Maravilha.

O título deste editorial é “Chacina Jurídica”, não “Chacina da Pistolagem”. Acostumamos, ao longo dos últimos anos à expressão “insegurança jurídica”, que faz referência a não podermos mais confiar na aplicação da lei, nem mesmo da Constituição, como se encontram escritas, por aqueles que nos governam, contra ou a favor da nossa vontade, pouco importa. Mas, a prisão, que, na verdade, já vem de mais de um ano, antes mesmo de sua injusta condenação, do ex-presidente Jair Bolsonaro, vítima da vingança de um nordestino que, também, veio para o Sul Maravilha, embora não foragido de qualquer chacina familiar em sua terra natal, que aliou-se ao espírito de vingança de quem o reconduziu ao poder, porque, um dia, fora ofendido em plena Avenida Paulista, deu início à chacina jurídica de toda uma família de desafetos, estendendo-se a perseguição dos pistoleiros de caneta aos filhos, porque há de se extirpá-los para que não herdem a popularidade do pai, e à sua mulher, pelo mesmo motivo.

A chacina jurídica garantirá, assim, o poder quase eterno, porque boa parte da população estará morta quando chegar ao fim, do grupo que financia, apoia e pratica a chacinagem.

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