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Editorial 1140: A bandeira e a vergonha

Imaginemos a seguinte situação que, aliás, não é incomum: a mãe de família vive, diariamente, com a triste convivência com um marido que gosta de embriagar-se, chega em casa, bate nos filhos, bate nela, quebra os móveis e utensílios. Ela está desesperada, não sabe mais o que fazer. Polícia não resolve o problema, porque, quando eventualmente detido, o camarada é solto quase que imediatamente. A Justiça não lhe ajuda, já que ela teme as ameaças, veladas, nunca comprovadas, portanto, do camarada, de que, se algo mais sério, como prisão ou Lei Maria da Penha, acontecer com ele, ele volta, sequestra as crianças e, até, a mataria.

Um dia, porém, um vizinho, desses que passam o dia em academias, com um braço e peito de puro músculo, perde a paciência, não em solidariedade a ela e seus filhos, mas porque a gritos por socorro durante as surras, o barulho da quebradeira, ou seja, o barraco geral que vem da casa dela, já o está incomodando na sua própria casa. Então, o vizinho avisa ao tal marido que, se houver, de novo, barraco na casa da mulher, que o incomode, a coisa vai ficar feia para o lado dele. O marido, que naquele momento ainda não havia tomado seus “gorós”, faz de conta que respeita o aviso do vizinho, mas, logo começa tudo de novo. O vizinho perde a paciência, e lhe dá uns tabefes, para começar a se fazer respeitar. O camarada não muda, e, mesmo com os tabefes, volta a criar os barracos em casa. O vizinho, então, numa noite, invade a casa dele, e lhe dá uma bela surra, diante dos olhos da mulher que, aliás, já teria levado sua própria surra momentos antes, mas, para ela, o vizinho passa a ser um herói, e ela clama por ele toda vez que o camarada chega em casa.

No dia 07 de setembro deste ano de 2025, em plena avenida Paulista, São Paulo, palco das grandes manifestações políticas populares há alguns anos, comemorou-se os 202 anos de Independência do Brasil, com o povo estendendo a bandeira dos Estados Unidos da América, o vizinho (ou quase), fortão do Norte, que está enchendo de tabefes o governo e outras instituições nacionais. Não, não é uma invasão dominadora. É o atendimento ao grito de socorro da maioria dos brasileiros ao vizinho mais forte que nós próprios. Uma vergonha, como a daquela dona de casa, mãe de filhos, que não encontra forças para resolver seus problemas domésticos, por causa da ditadura violenta de seu marido, e pede – ou aceita passivamente – a ajuda do vizinho. A bandeira dos Estados Unidos da América, estendida pelo povo na avenida Paulista, foi o símbolo maior, da nossa própria vergonha, da vergonha dos nossos políticos que, se quisessem, poderiam haver, e ainda podem, resolver nossos problemas, sem que batêssemos palmas para aquele que adentrou a nossa casa, para tentar fazer o que fomos, ou estamos sendo, incapazes de fazer.

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